Durante a abertura da 18ª Exposição Internacional de Arquitetura, o ArchDaily teve a oportunidade de conversar com a curadora geral do evento, Lesley Lokko, sobre suas primeiras impressões e os principais temas desta edição da Bienal. Com a participação de 63 pavilhões nacionais, 89 participantes e nove eventos paralelos na cidade, a Bienal de Arquitetura de Veneza é um dos eventos internacionais mais importantes da disciplina. A conversa focou na abordagem de Lokko em relação ao tema central da exposição, que encara a África como um "Laboratório do Futuro", o desejo de trazer autenticidade e empatia para o discurso arquitetônico, e a oporunidade de oferecer espaço para vozes que historicamente não foram ouvidas em exposições globais.
Os pavilhões nacionais responderam ao tema proposto de várias maneiras, reinterpretando e desconstruindo o significado por trás de ideias como decolonização, a descarbonização, o gerenciamento de recursos ou a descoberta do potencial oculto em práticas vernaculares. De acordo com a curadora, um dos aspectos mais interessantes desta edição foi a formação de relações entre territórios, não baseadas na geografia, mas em atitudes comuns em relação a recursos, política e formas de pensar sobre o mundo.
Essa perspectiva é reforçada por meio da apresentação de narrativas diversas, preenchendo a lacuna entre a profissão da arquitetura e o campo mais amplo da disciplina. Lokko encarou o desafio de desenvolver a Bienal como um processo aberto, no qual vários atores reagem à mesma ideia de maneiras diferentes. O mesmo princípio se aplica ao público, ao qual não são apresentadas lições específicas de forma pedagógica, mas narrativas que podem abrir novas perspectivas e entendimentos.
Eu acho que toda produção cultural é uma forma de narrativa. Alguém disse uma vez que a cultura é a soma total das histórias que contamos sobre nós mesmos. Então, há uma necessidade muito profunda de dizer algo, de transmitir algo. Nestas questões de colonialidade, identidade, território e história, há um sentimento comum entre muitos profissionais negros de que nunca tivemos espaço para contar nossas próprias histórias, e parte do ato de recuperar o que foi perdido é o desejo de falar. De certa forma, a Bienal foi uma experiência de cura, uma espécie de fechamento de uma ferida, de um vazio. — Lesley Lokko
A conversa também abordou uma nova iniciativa, o Biennale Collage, um projeto de Lesley Lokko dedicado à prática de jovens nas áreas artísticas e nas atividades de organização do evento. A partir de uma chamada internacional, jovens talentos terão a oportunidade de trabalhar para desenvolver criações a serem apresentadas como parte dos Programas Artísticos.
Não espero que esta exposição ensine alguma coisa a alguém, não acho que seja uma exposição didática. Isso não quer dizer que as pessoas não aprenderão algo com ela. Mas eu não quero que nenhum dos participantes seja aquele que dita a lição. Ela deve ser lida a partir da exposição. O que eles fizeram aqui foi apresentar uma história autêntica, genuína, às vezes vulnerável. O que acontece com essa história está de certa forma além de seu controle. O que espero que a audiência perceba é uma espécie de abertura onde anteriormente poderia haver uma fechamento, ou uma falta de disposição para se envolver com o outro, não em nossos termos, mas nos termos deles. — Lesley Lokko
A 18ª Exposição Internacional de Arquitetura - La Biennale di Venezia, intitulada O Laboratório do Futuro, foi oficialmente inaugurada em 20 de maio e permanecerá aberta ao público até 26 de novembro de 2023. Como parte da inauguração, o júri internacional concedeu o Leão de Ouro para a Melhor Participação Nacional ao Pavilhão do Brasil por sua exposição intitulada Terra, com curadoria de Gabriela de Matos e Paulo Tavares. Além dos pavilhões nacionais, 9 Eventos paralelos foram anunciados e ocuparão diferentes locais da cidade de Veneza.
Acompanhe a cobertura completa do ArchDaily para a Bienal de Arquitetura de Veneza 2023: O Laboratório do Futuro.